quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A amizade na Literatura: Santo Agostinho - Confissões


Nem os bosques amenos, nem os jogos e cantos, nem os lugares suavemente perfumados, nem os banquetes sumptuosos, nem os prazeres da alcova e do leito, nem, tão pouco, os livros e versos podiam disfarçar a amargura do amigo que havia perdido. Tudo me causava horror, até a própria luz.

Os meus olhos buscavam por toda a parte o amigo que a morte me levara, e o mundo não mo devolvia. Cheguei a odiar todas as coisas, porque nada o continha, e ninguém mais me podia dizer como antes, ao chegar depois de uma ausência: «Aí vem ele!»

A alma não me obedecia, e com razão, porque para mim, era mais real e melhor o amigo querido que perdera do que o fantasma que mandava que tivesse resignação.

O que mais me confortava e alegrava eram sobretudo as consolações de outros amigos, com os quais partilhava o amor por aquilo que amava em Teu lugar.

Ama-se de tal modo os amigos que a consciência se julga culpada se não é capaz de amar aquele que ama, ou se não procura retribuir o amor com amor, e apenas procura na pessoa do amigo o sinal exterior da sua benevolência.

S. Agostinho (354-430) foi um filósofo e teólogo cristão.

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